Pular para o conteúdo principal

"Nosso Lar" - Revista Reformador, abril de 1944


Caros amigos,


Em abril de 1944 foi publicada pela redação da revista Reformador matéria bastante interessante sobre o recém lançado livro "Nosso Lar", psicografado por Chico Xavier, de autoria espiritual de André Luiz. Na oportunidade a revista teceu comentários sobre a rotina de trabalho de Chico Xavier, que envolvia o trabalho caritativo, a difusão do Espiritismo e a dedicação à psicografia no parco tempo que lhe restava. Faz também uma síntese esclarecedora e instigante da obra, soando como convite à sua leitura. Essa é mais uma viagem ao passado, em busca da história de "Nosso Lar" e do próprio Espiritismo!!!

"Nosso Lar"




"Quem, como nós, conhece a vida cotidiana de Francisco Cândido Xavier, com os dias tomados pela conquista do pão para numerosa família e as noites consagradas aos serviços de assistência pessoais ou epistolares que lhe surgem de todos os pontos, não pode compreender onde encontra ele o tempo para receber livros e mais livros ditados pelos Espíritos. Parece, portanto, que os Espíritos lhe ditam os livros com rapidez vertiginosa, numa fração ínfima do tempo que um escritor levaria a pensá-los e escrevê-los. 

Agora, logo depois de "Cartilha da Natureza", de Casimiro Cunha, que a maioria dos confrades ainda não teve tempo de ler, aparece um novo escritor que se revela grande artista das letras e da doutrina. É um médico e escritor brasileiro que se oculta sob o pseudônimo de André Luiz para nos dar um mimoso livro que se lê de um fôlego, com a respiração suspensa e a alma encantada pela arte, o coração palpitando de emoções variadas. 

Quem o apresenta é Emmanuel num belo prefácio rico de ensinamentos e do qual não podemos calar alguns pensamentos que aqui vão: 

"... O Espiritismo ganha dilatada expressão numérica. Milhares de criaturas interessam-se pelos seus trabalhos, modalidades, experiências. Nesse campo imenso de novidades, todavia não deve o homem descurar de si mesmo. 
"Não basta investigar fenômenos, aderir verbalmente, melhorar a estatística, doutrinar consciências alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinião, por mais respeitável que seja, no plano físico. É indispensável cogitar do conhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando-os, por nossa vez, nos serviços do bem...
"...André Luiz vem contar a você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório, ou nos precipitamos no abismo infernal...
"...Guarde a experiência dele no livro d'alma. Ela diz bem alto que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão, em qualquer escola religiosa, deve dirigir-se verdadeiramente ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinário precisamos, em verdade, do Espiritismo e do Espiritualismo, mas, muito mais, de ESPIRITUALIDADE".

Talvez fosse nosso dever guardar silêncio, dar essas palavras do Emmanuel como chave de ouro; porém elas estão no prefácio e o livro todo segue depois com seus episódios emocionantes e instrutivos. Tentemos resumi-lo em poucas linhas para os que ainda não o leram.

André Luiz é filho de um negociante rico, faz seus estudos sem conhecer dificuldades, e forma-se em medicina, constitui um lar feliz. Para ele a medicina é ciência, profissão, mas não sacerdócio e fonte de sacrifícios. Abusa um pouco de sua situação de membro das classes favorecidas, quanto à alimentação e às bebidas, e isso lhe encurta a vida. Morre cercado dos melhores médicos e da família carinhosa, após duas operações que não conseguem salvá-lo. É tratado como suicida, nas sombras, e sofre torturas infernais durante oito anos que mais lhe parecem uma eternidade entregue ao desespero. Finalmente, vencido pela dor, faz uma prece implorando a proteção de um Deus, de cuja existência pouco cogitará na prosperidade. É socorrido por um bondoso Espírito e conduzido para uma colônia espiritual de regeneração e educação, nas proximidades da Terra. Essa colônia que funciona como hospital e escola, com mais de um milhão de habitantes, tem o nome de "Nosso Lar".

Não é uma região espiritual elevada, um céu, destinado a Espíritos superiores e libertos, não; é uma série de enfermarias e campos de aprendizagem, onde os Espíritos sofredores encontram todos os socorros de que necessitam para se curarem de suas paixões mais violentas, aprenderem moral, adquirirem o gosto de servir, para finalmente voltarem ao planeta. Só muito excepcionalmente alguns Espíritos depois de estagiarem em "Nosso Lar" são promovidos a regiões superiores à Terra. Por isso mesmo que é uma instituição estabelecida logo acima dos pesadelos do remorso, da região consciencial a que no livro se dá o nome de umbral, as condições de vida em "Nosso Lar" tem muitas semelhanças com as da Terra, e seus habitantes conservam muitos hábitos e ilusões do nosso mundo, sentindo como nós necessidades de habitações, alimentos, propriedade particular, se bem as necessidades comuns a todos sejam realmente patrimônio de todos, como na sociedade imaginada por Eduardo Bellamy, em seu famoso livro, "Daqui a cem anos".

Vivendo ainda muitas ilusões da vida terrestre, os habitantes de "Nosso Lar" fazem a sua felicidade por processos muito semelhantes aos nossos melhores irmãos da superfície da Terra. Dizemos dos melhores habitantes da Terra, porque, tal como estes, sentem-se felizes quando prestam mais serviços, quando são promovidos a funções mais elevadas, quando acumulam maior número de propriedade privada em uma moeda a que dão o nome de bônus hora, e podem empregar essa propriedade com finalidades altruísticas a favor dos seus amigos. 

Muitos habitantes de "Nosso Lar" ainda conservam a ilusão de que necessitam de um veículo para se transportarem de um lugar a outro, e, para não humilhá-los, os que já possuem a faculdade espiritual de locomover-se com a rapidez do pensamento, sem veículo algum, não empregam nas ruas sua capacidade, igualam-se à maioria, viajando num carro comum aéreo a que dão o nome de "aérobus".

A vida da colônia é de intensa atividade nos serviços de auxílio os mais diversos. Depois de convenientemente curado do seu egoísmo, o nosso Autor é admitido a trabalhar em serviços de servente e enfermeiro e esses trabalhos humildes são por ele recebidos como verdadeira benção dos Céus; porque constituem a reparação de um passado inútil e salpicado de pequenas faltas, dessas faltas que os códigos não registram e nossa sociedade gentilmente tolera, mas a consciência esclarecida não perdoa.

Conquista novos amigos, faz encantadoras relações com Espíritos mais experientes e elevados; mas as saudades de seu lar terrestre são cada dia mais vivas. Nenhuma notícia tem de sua adorada esposa e dos filhinhos. Sua santa mãe que o vem visitar algumas vezes, descendo para isso de uma esfera mais elevada, nada lhe revela a respeito de sua viúva e filhos.

Assim passa mais de um ano em "Nosso Lar" e, computados os oito que passou nos tormentos do Umbral, já está morto há nove ou dez anos, sem a mínima notícia daqueles que idolatrava num amor exclusivista, egoísta, sobre a Terra. Finalmente, um dia lhe é oferecida a oportunidade de uma semana de licença para voltar à casa, onde deixou inconsoláveis a viúva e os filhinhos. Sua ansiedade é imensa! Encontra, porém, toda a casa transformada: tudo quanto podia recordar-lhe a memória foi cuidadosamente afastado para não melindrar o novo esposo da ex-viúva. Casada em segundas núpcias e vivendo feliz com o segundo esposo, a mãe de seus filhinhos recomenda-lhes o máximo silêncio a respeito do pai, para não entristecer o padrasto.

O seu substituto no lar está gravemente enfermo, em perigo de vida e a esposa sofre desesperadamente os receios de uma segunda viuvez que já lhe parece inevitável. O primeiro impulso de André Luiz é a revolta contra a ingratidão, é o ciúme do homem velho que vê a esposa pertencer de coração e alma a outro homem. Recorda-se, porém, dos ensinamentos e exemplos que tem observado em "Nosso Lar", ora amorosamente pelo enfermo, invoca a proteção de uma santa enfermeira daquela colônia e é atendido. A enfermeira desce até à sua antiga morada. Ambos desvelam-se no tratamento do doente e lhe restituem a saúde com fraternal amor. Está vencido o homem velho e ele envolve num amor fraternal a sua antiga esposa com o seu novo marido. 

Como se vê destes rápidos traços, é um livro excelente, porque trata de uma vida espiritual muito ao alcance da nossa inteligência, muito próxima da Terra e não das altas esferas espirituais que nossa compreensão não alcançaria. 

A literatura é boa e muitos episódios nos fazem lembrar cenas da "Divina Comédia". Os ensinamentos vem enquadrados em belas narrativas que nos empolga. 

É um livro de grande interesse, mesmo como arte, até para o leitor de romances, e por isso tem o futuro assegurado igualmente pela forma.

Enviamos daqui nossos agradecimentos ao novo amigo, André Luiz, e ao seu introdutor, Emmanuel, e nossas carinhosas congratulações ao médium que deve ter ganho, na moeda de "Nosso Lar", muitos milhares de bônus hora pelo novo serviço extra que nos presta, a todos nós, os necessitados da superfície do planeta."


Revista Reformador, abril de 1944, páginas 19 e 20, edição: FEB.

 
Abaixo está a imagem recortada da publicação original, extraída do acervo da Federação Espírita Brasileira:

Link para a página da revista Reformador e ter acesso digital a todas as edições:






Grande abraço,


Estude e Viva!!!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Estudo do livro Nosso Lar - Capitulo 1 - Nas Zonas Inferiores

NAS ZONAS INFERIORES Eu guardava a impressão de haver perdido a ideia de tempo. A noção de espaço esvaíra-se-me de há muito. Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos. Desde quando me tornara joguete de forças irresistíveis? Impossível esclarecer. Sentia-me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores, que os meus, respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro. A paisa

Estudo do Livro Nosso Lar - Capítulo 9 - PROBLEMA DE ALIMENTAÇÃO

9 PROBLEMA DE ALIMENTAÇÃO "Enlevado na visão dos jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiro para descansar alguns minutos num banco próximo. Lísias anuiu de bom grado. Agradável sensação de paz me felicitava o espírito. Caprichosos repuxos de água colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras. - Quem observa esta colmeia imensa de serviço - ponderei - é induzido a examinar numerosos problemas. E o abastecimento? Não tenho notícia de um Ministério da Economia... - Antigamente - explicou o paciente interlocutor - os serviços dessa natureza assumiam feição mais destacada. Deliberou, porém, o atual Governador atenuar todas as expressões de vida que nos recordassem os fenômenos puramente materiais. As atividades de abastecimento ficaram, assim, reduzidas a simples serviço de distribuição, sob o controle direto da Governadoria. Aliás, a providência constitui medida das mais benéficas. Rezam os anais que a colônia, há um século, lutava com extremas d

Estudo do Livro Nosso Lar - Capítulo 10 - No Bosque das Águas

10 NO BOSQUE DAS ÁGUAS Dado o meu interesse crescente pelos processos de alimentação, Lísias convidou:  - Vamos ao grande reservatório da colônia. Lá observará coisas interessantes. Verá que a água é quase tudo em nossa estância de transição. Curiosíssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar. Chegados a extenso ângulo da praça, o generoso amigo acrescentou: - Esperemos o aeróbus. (1) Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não era máquina conhecida na Terra. Constituída de material muito flexível, tinha enorme comprimento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte. Lísias não me deu tempo a indagações. Aboletados convenient