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Estudo do livro A Gênese - Allan Kardec




"9. Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus. 

As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos.

É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.

10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentam sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: "Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus". ( Epíst. 1ª, 4:1.)

Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus. É assim que a Lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto que as outras leis mosaicas, fundamentalmente transitórias, muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre de pé, como farol da Humanidade. O Cristo fez dele a base do seus edifício, abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso está a prova de sua missão divina. Uma obra puramente humana careceria de tal poder. 

11. Importante revelação se opera na época atual e mostra a possibilidade de nos comunicarmos com os seres do Mundo Espiritual. Não é novo, sem dúvida, esse conhecimento; mas ficara até aos nossos dias, de certo modo, como letra morta, isto é, sem proveito para a Humanidade. A ignorância das leis que regem essas relações o abafara sob a superstição; o homem era incapaz de tirar daí qualquer dedução salutar; estava reservado à nossa época desembaraçá-lo dos acessórios ridículos, compreender-lhe o alcance e fazer surgir a luz destinada a clarear o caminho do futuro.

12. O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o  suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção cientifica da palavra."


CONSIDERAÇÕES

              "Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus". ( Epíst. 1ª, 4:1.)

Kardec ratifica a orientação de João e esclarece na Introdução do Livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo, item II - Autoridade da Doutrina Espírita, que: "Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos e sofômanos*, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam por verdades as suas idéias; enfim, que só os Espíritos de categoria mais elevada, os que já estão completamente desmaterializados, se encontram despidos das idéias e preconceitos terrenos; mas, também é sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam em tomar nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas utopias." Ensina-nos deste modo o Codificador a submeter primeiramente tudo o que venha dos Espíritos ao exame da razão. 

A força da Revelação Espírita não reside na opinião de um homem ou de um espírito, está na universalidade dos ensinos dados pelos espíritos. Fundamentar-se neste princípio basilar do Espiritismo que consoante com o princípio da revelação Divina ("O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade.") deve ser ponto de observação imprescindível em toda a Sociedade Espírita. 

A tendência de tomar a opinião pessoal como verdade absoluta é natural da condição evolutiva humana, porém é um erro, que tratando-se da Seara Espírita, tem dificultado sobremaneira o trabalho de sua propagação.

Para sabermos distinguir opinião pessoal e verdade, temos que buscar o conhecimento e a compreensão das revelações divinas: Mosaica, Cristã e Espírita. Isso requererá esforço, desprendimento, renúncia e sempre boa e firme vontade.


Muita paz!!!

Estude e Viva.


Referências Bibliográficas:


KARDEC, Allan. A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. França: FEB, 1868, pag. 23-25.

_____________. Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita: Sociedade Espírita de Paris - Discurso de Abertura do 7º Ano Social de 1864. França: FEB, 2005, pag. 177.

 _____________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. França: FEB 1864, pag. 29.



Nota:
** - sofomania/sofômanos: hábito de querer passar por sábio; afetação


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